22.3.22

O bem e o mal na Ucrânia

 

«Não sei se gosto de Zelensky. O ponto é que não tenho de gostar. Não tenho de achar que votaria nele, nem considerá-lo santo, nem concordar com tudo o que faz, nem sequer achar boa ideia que um país governado por ele entre na UE (repito: não tenho informação que me permita ajuizar), para saber que neste momento o lado dele é o certo, aquele pelo qual torço e me angustio.

Por motivos simples, simplórios, até. É o presidente de um país invadido por uma superpotência governada por um autocrata formado nos serviços secretos soviéticos que arranjou um esquema para se manter indefinidamente no poder; que há anos apoia e financia tudo o que é extrema-direita na Europa; que interfere nas eleições de outros países; que tem a sorte de os opositores tenderem a morrer de mortes macacas; que manda prender pessoas por dizerem a palavra guerra. Um autocrata que justifica a invasão asseverando que o país invadido é "uma invenção de Lenine" e que a concessão de autonomia às repúblicas que fizeram parte da URSS foi um erro estúpido (leia-se: nunca lhes deveria ter sido dada a hipótese de se autodeterminarem) e, no mesmo discurso, lembra que a Rússia tem armas nucleares - o maior arsenal do mundo - e por esse motivo é invencível, e diz temer pela respetiva segurança. Um autocrata que ameaça o mundo com o holocausto nuclear caso se atreva a ir em socorro da Ucrânia e põe os seus representantes na ONU a negar que esteja a ocorrer uma invasão.»

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