19.7.22

Aproveitem a maioria absoluta enquanto é tempo

 


«A sondagem da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e PÚBLICO contém três conclusões que estão longe de ser surpreendentes. O PS de António Costa não obteria hoje a maioria absoluta que conseguiu em Janeiro; a notoriedade de Luís Montenegro como antigo líder parlamentar esvaiu-se da memória do eleitorado; e, finalmente, a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa mantém elevados índices de popularidade, mas sem o unanimismo do passado mais recente.

Em seis meses aconteceram demasiadas mudanças: iniciou-se uma guerra na Europa, a inflação está a galopar, os preços das casas são exorbitantes, engravidar é uma tarefa espinhosa e instalou-se a ideia de desgaste precoce num executivo que tinha tudo para fazer bem, se tivesse a energia e o talento que não tem. Esta sondagem, realizada após a eleição do novo líder dos sociais-democratas, sucede também às patéticas trapalhadas do Governo a propósito do novo aeroporto de Lisboa.

Mas há outra razão nada despicienda. A vitória de António Costa em Janeiro não pode ser dissociável da ameaça que fez do PS o voto útil para travar as ambiguidades de Rui Rio nas suas relações com o Chega. Portanto, não é de estranhar que o PS seja penalizado nesta sondagem, assim como em anteriores inquéritos, cujos resultados são muito semelhantes, por ter sido abandonado por um eleitorado que regressou ao ponto de origem. O PS desce dos 41,37% para os 38% e o PSD é, naturalmente, o partido mais beneficiado (27,67% há dois meses, 30% agora).

De resto, exceptuando PS, PAN e CDS, todos os outros partidos representados no Parlamento também crescem, em particular o Chega, que sobe de 7,18% para 9%. E nem a invasão russa da Ucrânia e a opinião que a CDU tem sobre o assunto impede o partido de Jerónimo de Sousa de subir ligeiramente nas sondagens.

A futura influência de Luís Montenego nesta balança parlamentar é ainda uma incógnita. Menos de metade dos inquiridos confia mais no actual líder do PSD do que no seu antecessor, mas há um quinto de entrevistados sem opinião, o que é uma conclusão muito vaga. A Montenegro não lhe falta tempo para se consolidar como líder da oposição. O que falta mesmo saber é se é tudo uma questão de tempo e de resistência ou de destreza política e clareza de ideias. Marcelo é uma nota de rodapé nesta sondagem: o Presidente deixou de ser unânime, para passar a ser consensual. Nada a dizer.

Uma coisa é certa: esta maioria absoluta foi fruto de uma circunstância especial e era bom que fosse aproveitada para reformar o que precisa de ser reformado.»

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