25.7.22

O que fazemos pela floresta, quando ela não arde?

 


«O país aprendeu o que tinha a aprender com a catástrofe de 2017? O actual ministro da Administração Interna, pelo menos, terá percebido ser necessário fazer algo mais do que atalhar o problema a posteriori, embora fale mais sobre o reforço dos meios de combate do que no reforço das medidas de prevenção, um cliché entre os ministros desta pasta.

A Protecção Civil está hoje mais bem organizada do que em anos anteriores e planeou o que havia a planear para evitar que esta mistura explosiva entre seca extrema, calor exasperante e ventos perigosos provocasse fogos com consequências ainda mais trágicas.

José Luís Carneiro teve o bom senso de se antecipar, de manter uma relação institucional de maior proximidade com os meios de combate e de ter recorrido ao estado de contingência.

Não era tarefa impossível: aprendeu com os erros dos antecessores e, sobretudo, tem a seu lado alguém experiente no assunto como é Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna, que foi segunda comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. Mas Carneiro teve ainda o bom senso de não se meter a comprar golas inflamáveis. E ajudou não termos tido más notícias sobre o SIRESP.

Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, diz que o país interiorizou que não basta combater os fogos, e que o que há a fazer é sobretudo preveni-los. Interiorizar é uma coisa, fazê-lo é outra.

Mas o mais relevante da sua recente entrevista ao PÚBLICO é o retomar de uma proposta antiga: alterar o regime sucessório para não permitir que o desentendimento entre herdeiros condene os terrenos ao abandono e aos incêndios. Isso e a possibilidade de remunerar o proprietário pela boa gestão do terreno, de deduzir as despesas da limpeza da mata ou de evitar a construção em locais de risco são outras sugestões pertinentes. Nada impossível de fazer. Não nos faltam diagnósticos e estudos sobre como gerir a floresta.

Como se vê pelo resto da Europa, o precipício do aquecimento climático está a uma curta distância de nós. As temperaturas vão continuar a aumentar — este mês de Julho já é o mais quente do século — até termos o Norte de Marrocos no Sul do Algarve. A resposta à sazonalidade dos fogos terá, forçosamente, de ser revista. Um país que não consegue gerir a floresta, que ocupa 70% do território, acabará por ser ingerível. Afinal, o que fazemos pela floresta, quando ela não está a arder?»

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