«Reformas, unificação e interconexões. Este era o objetivo da Europa para um mercado de eletricidade que se vem construindo desde a década de 1990. O último passo para que todos os países da União Europeia passassem a um mercado livre foi há oito anos.
Desde essa altura, são as empresas privadas (ou não) a ditar os preços da luz supervisionados pelos reguladores. O objetivo de tudo isso era a construção, posterior, de um mercado único europeu de eletricidade, mais adequado a uma combinação energética com foco em energias renováveis (principalmente, eólica e solar), favorecendo o consumidor com o fim dos monopólios estatais. Com a guerra da Ucrânia tudo mudou. Devido à dependência energética da Rússia, a Europa (e Portugal) está perante uma realidade em que os privados são "obrigados" a fazer disparar a fatura junto dos consumidores, fazendo com que o mercado livre ambicionado pela Europa se vire contra os seus concidadãos.
Não foi por acaso que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, veio ontem afirmar que há que rever os princípios de mercado no setor da energia, apelando a "uma intervenção de emergência" já que a reforma que levou mais de duas décadas a construir não se aplica às atuais circunstâncias. Ou seja, deixar que o mercado funcione num produto tão essencial como a eletricidade afinal não é assim tão benéfico para os consumidores.
E qual é a solução imediata? Mudar as leis para que haja maior intervenção estatal na definição dos preços da energia? Sim, pode acontecer. Mas não nos livramos dos preços impostos pelo mercado internacional.
Cortar com o fornecimento russo tem um lado da moeda cruel, que é continuar a comprar energia a preços incomportáveis até a Europa conseguir fazer o seu abastecimento numa aposta a longo prazo nas energias renováveis. Ou reforçar a tão nefasta energia nuclear. Os ministros da Energia vão reunir-se numa cimeira extraordinária a 9 de setembro prontos a quebrar com as regras do mercado livre. Veremos o que sairá da torre de Babel.»
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