«A prova de que o nosso sistema de ensino tem problemas é que o próprio Ministério da Educação não aprende. Todos os anos, o ano lectivo começa com professores em falta. O que é desaconselhável porque há quem diga que os professores são uma peça importante do processo educativo. Estudos indicam que aulas em que os alunos se limitam a olhar para um estrado vazio são menos enriquecedoras do que aquelas em que está presente um professor, a explicar coisas. Não é garantido que, mesmo com um professor a explicar coisas, os alunos aprendam. Mas toda a gente concorda que ajuda bastante.
Todos os anos, em Setembro, falamos erradamente em “regresso às aulas”. Trata-se, na verdade, de um regresso à escola. O regresso às aulas costuma ocorrer apenas em Outubro, Novembro ou, às vezes, Fevereiro. É um problema recorrente, pelo que integra a categoria de problemas “estruturais”. Ninguém divisou ainda um modo de solucionar a questão, mas eu tenho uma proposta. Consiste em aplicar ao ministro da Educação o mesmo sistema de faltas que é imposto aos alunos. De acordo com os jornais, há cerca de 60 mil alunos com pelo menos um professor em falta. Seriam então assinaladas 60 mil faltas ao ministro. O encarregado de educação do ministro — que será, em princípio, António Costa — seria chamado a justificar as faltas. Se não fosse apresentado um atestado médico ou documento comprovativo do falecimento de 60 mil familiares, o ministro reprovaria, e seria convidado a sair. Obrigá-lo a repetir costuma ser um castigo para alunos e professores, e não para ele.
Em defesa do Ministério da Educação, há que dizer que é difícil agradar aos cidadãos. Recordo que, para aquele casal de Famalicão, há aulas a mais; mas para a generalidade dos pais há aulas a menos. Se faltassem docentes apenas das aulas de cidadania talvez os protestos diminuíssem, mas nem essa sorte temos. Além disso, este é o ano em que as escolas portuguesas vão receber cerca de quatro mil alunos ucranianos refugiados. Tivéssemos nós um início de ano lectivo sem sobressaltos e esses alunos poderiam verificar, com mágoa, a diferença entre um país tranquilo, no qual tudo funciona, e a sua própria pátria, devastada por uma guerra. Se lhes dermos a oportunidade de sentir que um país em paz também pode estar mergulhado numa barafunda irremediável, talvez eles não sofram tanto com a comparação. O Ministério da Educação não é incompetente, é empático.»
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