«A atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2022 condena a invasão russa da Ucrânia e distingue o activismo e a importância de uma sociedade civil no reforço da democracia, da paz e do antimilitarismo, em países onde o exercício da opinião e da crítica tem um preço muito alto.
Ales Bialiatski, um activista dos direitos humanos bielorrusso, que está detido, e as organizações de direitos humanos Memorial, da Rússia, e Center for Civil Liberties, da Ucrânia, têm tido um papel importante na protecção dos direitos fundamentais dos cidadãos dos seus países.
O Prémio Nobel da Paz de 2022 pode não ter sido atribuído contra Vladimir Putin, no dia do seu aniversário, nem a favor de Volodymr Zelensky. A justificação do Comité Nobel Norueguês tenta convencer-nos disso. Mas a decisão do comité tem uma intencionalidade política inequívoca. O comité não poderia ignorar o conflito nem os seus intervenientes na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia.
É curioso que a escolha desses intervenientes nem tenha sido do agrado de Moscovo nem de Kiev. Não é difícil perceber o desagrado russo: o Memorial é o grupo de defesa dos direitos humanos mais antigo do país, foi criado para denunciar os atropelos da então URSS e prosseguiu com a denúncia dos crimes de guerra praticados pelos russos, sobretudo na Segunda Guerra da Tchetchénia — um tema proibido —, e foi ilegalizado, no ano passado, pelo Supremo Tribunal da Rússia. A escolha de alguém como Bialiatski, que contribuiu para denunciar práticas de tortura dos prisioneiros políticos na Bielorrússia, tem tudo para arreliar Moscovo e Minsk.
Mas a verdade é que os ucranianos também não ficaram muito contentes com o anúncio. Um assessor de Zelensky reagiu com o argumento de que nem as organizações russas nem bielorrussas foram capazes de organizar uma resistência à guerra, desvalorizando a coragem e atrevimento de quem tudo arrisca pelo combate pela liberdade, e porque os “representantes de dois países que atacaram um terceiro recebem, juntos, o Nobel da Paz.”
Os activistas russos e bielorrussos distinguidos, juntamente com a Center for Civil Liberties, organização ucraniana criada para promover os direitos humanos e a democracia, não representam nem o regime de Putin nem de Aleksandr Lukashenko. E, já agora, nem o de Zelensky.
Representam quem combate com coragem e dignidade por uma sociedade civil livre. A defesa da democracia, dos direitos humanos e da coexistência pacífica são o denominador comum entre os distinguidos. Não é de somenos. Não há gesto mais político do que o de premiar o activismo e a resistência.»
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1 comments:
está tudo errado. Só vemos 5% do real o resto é matéria escura que a ciência procura desvendar.
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