27.1.23

Jornada Mundial da Juventude: a Igreja e a “burrice”



 

«Ninguém sai bem na fotografia. Nem a Igreja, nem a Câmara de Lisboa, nem o coordenador do projecto da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), nem o Governo. O que é que andam afinal a fazer? A verdade é que, somando cada uma das partes, o cidadão comum ainda não percebeu quanto dinheiro e como anda a ser gasto para a recepção da JMJ e do Papa Francisco, em Agosto, no Parque Tejo, em Lisboa.

Ao terceiro dia de polémica, a Igreja Católica, empurrada pelo Presidente da República, tentou explicar a razão de um palco-altar para a JMJ custar cerca de cinco milhões de euros. O bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, confessou ter ficado surpreso e magoado. Não chega. O presidente da Câmara de Lisboa diz que ser “o centro do mundo tem um valor”. Isso, por si só, não é justificação. O coordenador do projecto das JMJ, José Sá Fernandes, afinal, diz ao PÚBLICO que não coordena nada, só representa o Estado central, e Carlos Moedas nem lhe mostra o que anda a fazer. Não dá para acreditar.

A JMJ em Lisboa foi anunciada em 2019 e é o maior evento que o país alguma vez organizou. Vai haver com certeza retorno financeiro - pode-se repetir a discussão que houve a propósito da Web Summit ou do Euro2004. O que não pode é ser tratada de uma forma mais displicente ou leviana do que um acampamento de escuteiros.

Será preciso investir muito dinheiro, será preciso também explicá-lo bem aos cidadãos. “Fazer um erro novo é humano, repeti-lo é burrice”, dizia esta quinta-feira Américo Aguiar. Pois bem, do lado da Igreja já se percebeu que sobra arrogância. Cada vez que está em apuros, em vez de reconhecer com humildade o problema, chuta em frente. Do lado do Estado, sobra desprezo pelos dinheiros públicos. Do Governo aos autarcas, todos acham que a melhor maneira de agir é esconder e fazer de conta que ninguém dá por nada.

(Enquanto isso, falta ainda saber quanto a Câmara de Oeiras vai gastar com a cerimónia de reunião do Papa com os 10 mil voluntários da JMJ, que decorrerá em Algés, no local onde habitualmente se realiza o festival de música NOS Alive. A autarquia diz que o gasto total “não está totalmente apurado”.)

Ninguém sai bem na fotografia e quem se queixe de que se está perante um ataque à Igreja Católica só por ser a Igreja Católica a promover este encontro que pense duas vezes.»

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