31.3.23

31.03.1974 – Últimas palmas para Marcelo Caetano

 


Quinze dias antes tinha falhado o golpe das Caldas, três semanas mais tarde terminaria a ditadura. No dia 31 de Março de 1974, teve lugar um Sporting – Benfica que viria a ficar célebre e não só porque os visitantes venceram por 3-5.

Num texto publicado em 1978, MC comenta: «Quando o alto-falante anunciou que eu me achava no camarote principal, a assistência calculada em 80.000 espectadores como que movida por uma mola oculta, levantou-se a tributar-me quente e demorada ovação que a TV transmitiu a todo o Pais. Isso foi interpretado como repúdio por aventuras militares.»

E é verdade – confirmo eu que lá estava. Houve vaias e muitas, sim, mas não na bancada onde eu me encontrava. À minha volta, só o grupo de amigos em que me integrava e, umas filas mais abaixo, Vasco Pulido Valente e Filomena Mónica, assistíamos, perplexos, ao entusiasmo generalizado.

Guardo a memória fotográfica desse momento e tive-o bem presente, no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril. Estou certa de que muitos daqueles que nesse dia me rodeavam também tinham estado no estádio de Alvalade. Que tinham então aplaudido Caetano e que bateram palmas quando saiu do Carmo num blindado. As multidões gostam de vencedores, não de vencidos.


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1 comments:

Monteiro disse...

O que faz as multidões mudarem de opinião? Questionava-se Engels e convidava psicólogos sociais a estudar o fenómeno. A tese de que as multidões gostam de vencedores, não de vencidos parece-me muito ajustada à realidade social. Parabéns Joana Lopes.