7.3.23

O fim da Igreja Católica como referência moral

 


«Se a conferência de imprensa da Conferência Episcopal Portuguesa já tinha sido a perda de uma importante oportunidade, as recentes declarações de Manuel Clemente levam-nos para um quadro de insensibilidade moral a rasar os limites da compreensão.

Ao remeter qualquer ação concreta para o cumprimento do estrito legalismo, o patriarca de Lisboa perdeu toda a essência do seu título, o pater familias, da sua função de grande pai protetor e referência de valores.

Quando uma instituição, que se arvora como a referência moral de toda uma civilização, se esconde atrás de processos legais, então ela perdeu a sua função social e, pior, a sua essência; passou de religião a escritório de advogados.

Se à mulher de César não bastava ser séria, à Igreja Católica não cumpre apenas o cumprimento da lei. A lei moral, e não é necessário ir buscar Kant, ou é imanente ou não é. Ou é superior aos factos e, por isso, não carece de demonstração ou perdemos toda a capacidade de nos guiarmos por modelos que julgamos os corretos.

A Igreja Católica, sejamos crentes ou não, é a principal referência que alimenta a nossa forma de ver o mundo. Nestes dias, os responsáveis por essa instituição milenar deram uma machadada profunda no contrato de confiança cimentado ao longo de muitas e muitas gerações.

Não admira que se somem as vozes vociferando contra esta estrutura, bispados e patriarcado, que perdeu todo o pudor perante a moral que ela mesma fundou.

São tempos sombrios aqueles que veem uma instituição como a Igreja Católica a abdicar da coragem de agir segundo a moral. Cada vez mais órfãos dessa referência, vemos os espaços vazios e o desalento para com a tradição herdada, geração após geração, serem ocupados por novas tradições. Não digo que uma ou outra seja a correta. Mas a Igreja Católica está a esforçar-se por passar o testemunho, abdicando de si mesma.»

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