«Paolo Gentiloni, comissário europeu da Economia, veio a Lisboa, na última sexta-feira, e disse que há margem para aumentar os salários em Portugal. A afirmação não deixa de ser surpreendente e quase passou despercebida. Muitos terão pensado que foi um lapso.
Os números relativos ao PIB, ao défice e à dívida pública estão excelentes. Infelizmente, a vida das pessoas está bem pior. Desçamos ao país real. Imaginemos uma dona de um pequeno restaurante no interior do país. A história é real. No espaço de poucos meses, o cabaz de compras para confecionar os pratos que estão no menu encareceu mil euros. "Até durmo mal a pensar que vou à falência. Eu não posso duplicar os preços, se não fico sem clientes". Apliquemos este caso aos quase 37 mil restaurantes e cafés (muitos servem refeições) espalhados pelo país. O rendimento destas famílias terá caído a pique. Não dependem do Estado ou do patrão (eles é que são os donos) para que os seus proventos aumentem e, logo, possam fazer face à inflação.
Atentemos então nos milhões de clientes destes negócios da restauração. Se são trabalhadores independentes, estarão também a enfrentar agravamentos de custos. Se quem se senta à mesa é um trabalhador por conta de outrem (Estado ou privados), o problema é igualmente sério. Segundo o INE, a remuneração bruta média por trabalhador cresceu 3,6% no ano passado, em comparação com o ano anterior, tendo atingido 1411 euros. No entanto, devido aos quase 8% da inflação, o salário encolheu cerca de 4%.
De quem é a culpa de todo este espartilho? Do Estado e dos próprios empresários, por esta ordem de importância. Porquê? Se a carga fiscal baixasse - Portugal é dos países que mais penalizam o trabalho -, o empregado teria mais dinheiro disponível. Quanto ao empresário, quando a ganância é grande ou a crise eleva os seus custos, o capital humano é a vítima mais fácil no conjunto dos múltiplos fatores de produção.»
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