5.5.23

Estabilidade não inibe Marcelo de aniquilar o ministro e o governo

 


«O Presidente foi fiel a si próprio, institucionalista e com sentido de Estado ao não ativar a bomba atómica. Sabendo que a Oposição ainda tem um longo caminho a percorrer e não querendo ficar para a História como o presidente que abriu a porta a uma coligação de Direita que poderia permitir levar o Chega para o poder, Marcelo foi duro no discurso e não se inibiu de usar todas as palavras que expressam o seu desagrado. Marcelo deu um murro na mesa.

Passada a fúria ou o desalento, Marcelo foi tão gelado quanto a sobremesa que comia na última quarta-feira à noite. Duro e implacável, não poupou nem o ministro nem o governo. Por outras palavras, Marcelo aniquilou ambos. No que diz respeito ao ministro João Galamba, em particular, rotulou-o de incapaz. Afirmou não ser responsável, não ser confiável.

As palavras de Marcelo deixaram clara a razão da discordância com António Costa quando este decidiu manter Galamba no Executivo. Marcelo fala em "divergência de fundo" sobre uma realidade muito mais importante do que as características pessoais: a autoridade, a confiança, a credibilidade.

António Costa sai beliscado de tudo isto e vai custar-lhe caro, no presente e no futuro, pela forma como fica colado ao caso do ministro Galamba, um governante que não é alheio a polémicas. Basta continuar a prestar atenção aos resultados da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, qual panela da qual ainda vão sair muitas pipocas e algumas delas esturricadas, para antever novos problemas.

Nos últimos dias, António Costa tentou fazer xeque-mate ao Presidente, mas acabou por ser Marcelo a mexer a última peça no tabuleiro. Deste conflito institucional, até esta quinta-feira parecia resultar um primeiro-ministro mais forte, um presidente mais fraco e um ministro acabado. Mas Marcelo tentou virar o jogo. Não se pode concluir que o Presidente saia desta situação reforçado, até porque, por diversas vezes, ameaçou ativar a bomba atómica, mas neste dia mostrou liderança e firmeza. Na opinião do vice-presidente do PSD, Miguel Pinto Luz, e que nesta edição de sexta é entrevistado no DN e na TSF, "Costa vai sentir, pela primeira vez, um Marcelo que não conhecia". Na prática, pode tornar-se um Soares no final do cavaquismo, muito escrutinador, quase um polícia (ainda mais musculado) da legislatura.

A partir daqui uma coisa é certa: a convivência entre os dois palácios mudou. Começa uma nova era nas relações São Bento-Belém. Marcelo não dará mais "colo", como diz a Oposição, ao Executivo. E face a tão grande divergência parece igualmente certo que, mais cedo do que tarde, o país vai ter eleições antecipadas. Como disse Marcelo "há que olhar para os custos objetivos do que aconteceu. Estas coisas não se apagam, não passam, reaparecem".»

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