20.5.23

Onde andam os adultos?

 


«A enorme desvantagem de passar uns dias num país civilizado e voltar a Portugal é perceber que, entre nós, é sempre possível fazer pior. Que os episódios e as personagens que tendem a envergonhar-nos são capazes de nos arrastar ainda mais para o lodaçal, que a nossa estupefação é tremendamente elástica e que o decoro e a probidade republicanas são conceitos que morrem com a mesma facilidade com que se desfaz o nó de uma gravata ministerial.

O intragável rol de versões, acusações e descrições produzidas pelo chamado "caso Galamba" entranhou-se na vida pública e política como uma praga bíblica, relegando tudo o resto para uma fastidiosa nota de rodapé. Ora, o país não se resume ao computador apreendido do assessor, à chefe de gabinete que chamou os serviços secretos, nem muito menos ao ministro que envolveu colegas do Governo, e sobretudo o primeiro-ministro, numa trapalhada de que será incapaz de sair, por mais vidas que lhe outorguem. Continuamos sequestrados por esta gente equívoca, aburguesada e infantil. Não somos convocados para discutir o essencial, o desenvolvimento económico, o emprego, a brutal crise social, a educação e as oportunidades de um país que vive refastelado à sombra do turismo, a galinha dos ovos de ouro que brilha, impante, malgrado as pancadas que recebe como agradecimento.

Enquanto João Galamba era espezinhado no Parlamento, António Costa vibrava no concerto dos Coldplay. E no meio desta sucessão de nadas que usa a nossa lamúria como banda sonora até o presidente da República revelou um desnecessário desacerto, ao criar suspense sobre uma declaração acerca do tema, a qual foi entretanto cancelada, mas que depois acabou por acontecer. E o que disse afinal Marcelo? Que está atento mas que não tem nada a acrescentar. Onde andam os adultos que tanta falta nos fazem?»

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1 comments:

Gabriela disse...

A opinião que gostava de ter escrito...