«As eleições ditaram uma situação de bloqueio político que ameaça forçar um regresso às urnas. Com mais de 99% dos votos contados, Alberto Nuñez Feijóo e o Partido Popular venceram as eleições mas não têm uma maioria para governar. A soma dos deputados do PP e do Vox (extrema-direita) ficam longe da maioria absoluta de 176 deputados, ficando-se pelos 169. Também a soma do PSOE, de Pedro Sánchez, do Sumar (esquerda) e aliados independentistas fica abaixo da maioria.
Nenhum dos blocos tem “números” para governar. No entanto, Feijóo deverá reivindicar o direito de formar governo por ser o partido com maior representação parlamentar: 136 deputados contra 122 dos socialistas. E também Pedro Sánchez abrirá certamente negociações para permanecer no poder. Mas a formação de uma maioria alternativa em torno do PSOE exigirá mais apoios parlamentares do que os que obteve em 2019, agravando a sua dependência de nacionalistas e independentista.
As expectativas de Feijóo
Feijóo tinha expectativas muito altas. Visava a conquista de mais de 150 deputados ou, se possível, 160. O objectivo era poder governar sem uma coligação com a extrema-direita. Para isso precisava de somar mais mandatos do que os de Sánchez e seus aliados. Apostava num executivo minoritário que colocaria o Vox numa posição incómoda: não poder votar contra o PP e fazer ressuscitar Sánchez.
Para realizar este cenário, que durante semanas as sondagens consideraram possível, precisava de um resultado incontestável, de aquilo a que os analistas chamavam uma “maioria clara da direita moderada”. Acabou por obter uma vitória muito insuficiente. Ao contrário, a derrota do bloco da esquerda (PSOE e Sumar) sabe a triunfo para Pedro Sánchez. Uma derrota maciça forçaria a sua demissão. Agora vê reforçada a sua liderança no partido.
Feijóo tinha em mente uma outra táctica: pedir a abstenção do PSOE na investidura do seu governo, para evitar o acesso do Vox ao governo. A entrada da extrema-direita no executivo preocupa muito Paris e Berlim.
Abascal ri
Resta averiguar as consequências para o Vox. A extrema-direita desejava ter uma elevada votação que a tornasse incontornável na formação do governo em coligação com o PP. Na impossibilidade disso, como mostravam as sondagens, Santiago Abascal preferia secretamente uma vitória de Sánchez aliado a independentistas, o melhor cenário para o seu reforço eleitoral. A extrema-direita alimenta-se das crises e dos impasses do sistema.
Uma situação de bloqueio como a que se vai provavelmente viver é um terreno fértil para a demagogia populista. Ao contrário do anterior líder do PP, Pablo Casado, que adoptou muitos temas do Vox, Feijóo tornou-se numa ameaça real à extrema-direita. Começou a esvaziá-la. Mas a noite eleitoral devolve a Abascal alguns trunfos.
A Espanha entra numa fase de grande incerteza política e de difícil governabilidade. As eleições europeias de Junho de 2024 são o próximo grande marco político.»
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