23.8.23

Juros do fim do “bloco central de palácios”

 


«Um dos ministros deste Governo, Pedro Adão e Silva, quando ainda era comentador político, vaticinou, em 2016, que entre o recém-eleito Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa havia tudo para ir além da “cooperação estratégica” que se tinha estabelecido em primeiras núpcias entre Cavaco e Sócrates.

E assim foi. O “bloco central de palácios”, como ele crismou, vigorou durante muito tempo, superou incêndios, epidemias e guerras, até que deixou de fazer sentido tanto para o morador de São Bento como para o de Belém. Como na altura justificava Adão e Silva, a conjugação de interesses existia porque Costa tinha “um apoio frágil à esquerda” e porque Marcelo queria “demonstrar que é o Presidente de todos os portugueses”.

Com maioria absoluta, Costa já não necessita de cultivar apoios e deixou cair a ideia de “maioria de diálogo” que tentou passar nos primeiros momentos do actual executivo. As críticas de Marcelo à falta de consenso no pacote de habitação servem para reforçar esse isolamento que, a prazo, irá cobrar os seus juros em desgaste para os socialistas. Não é certo que os portugueses já estejam reconciliados com as maiorias absolutas.

Em tempo de segundo mandato, Marcelo também já não necessita da abrangência em que transformou a sua reeleição num caminho sem escolhos e estará bem consciente de que as sucessivas críticas a que tem submetido o executivo cobrarão juros, pagos com a erosão do consenso em que viveu. Só que a margem para desgaste ainda é grande e o Presidente certamente preferirá ficar na história como alguém que ajudou a tirar ao PS a possibilidade de ficar no poder durante 15 anos consecutivos. Já lhe bastou a maioria absoluta.

Claro que o sucesso do Governo ficará sempre mais dependente daquilo que conseguir fazer do que das críticas que lhe façam. Mas, no caso da habitação, as probabilidades de correr bem são mínimas, e, a prazo, deverá pagar com juros as críticas que Marcelo já deixou agendadas para o futuro.

Nesta luta de titãs, Luís Montenegro corre o risco de passar despercebido, com o Presidente a tirar-lhe protagonismo na agenda de oposição que tanto lhe tem custado conquistar. Não terá sido por acaso que ontem quis voltar a falar de impostos, quando toda a gente falava de habitação. Mas nem que tenha de pagar os juros de ser secundarizado por um Marcelo sempre activo, a prazo capitalizará sempre do desgaste a que um Presidente sem freio continuará a sujeitar os socialistas.»

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1 comments:

Niet disse...

Como pode ser analisada a aventura táctica individual do PR Marcelo? Quem ouve e como arquiva os textos que lhe servem de suporte na sua estrategia principal ? Costa em vez de ter tentado
unir as capacidades analiticas politicas singulares de Porfirio Silva e Manuel Carrilho abalancou-se a gastar dinheiro com chance em Paixäo Martins numa aposta de ultima hora. O PS
sempre viveu de aventuras teóricas individuais protagonizadas por Eduardo Lourenco,Cardia,Cunha Rego, Gama e Serras Gago; e no dealbar da democracia Vitorino Magalhäes Godinho, Miller Guerra
e Raul Rego. Mas Costa é um audaz conquistador politico e beneficiou de uma pleiâde de apoios
ideologicos täo brilhantes e inspirados como os de Sampaio,Vera Jardim ou o dos primos Galväo
Teles.MR de Sousa teve desde o inicio que jogar a solo e precaver-se na sua gesta politico-partidária pautada pelas analises politicas de Sabado do Semanario Expresso, conseguindo eleger-se sem staff operacional o que espantou Emmanuel Macron. Niet