30.11.23

Os eleitores e os eleitos: um divórcio crescente

 


«Depois da demissão do primeiro-ministro e do anúncio da iminente dissolução da Assembleia da República, estamos em plena campanha eleitoral a caminho de eleições legislativas.

As campanhas eleitorais são períodos de dúvida para os eleitores, pelo que ouvem e nem sempre compreendem. Candidatos, sejam eles do partido que se recandidata à governação, ou dos partidos que partem da oposição, desdobram-se em propostas e promessas sobre benefícios que até então não foram opção, seja ela politica ou económica. Estamos a assistir a isso mesmo, com medidas como o recuo que o Governo teve face ao IUC ou as propostas da oposição sobre o Complemento Solidário para Idosos. De repente, na euforia eleitoral, nem os milhões de receita prevista no primeiro são, afinal, necessários, nem a despesa que a segunda adiciona é preocupante.

Esta "tradicional" forma de fazer política pelos partidos do chamado "arco do poder" está a afastá-los do eleitorado, cansado de promessas não-cumpridas e de discursos que muitas vezes não coincidem com a prática que se lhes segue. E até a justificação para que tal não aconteça é quase sempre o facto de o Governo anterior ter deixado uma situação pior que a que se pensava. É claramente uma conversa a precisar de reciclagem.

Este modus operandi é um dos contributos para o crescimento dos partidos fora do "arco do poder" ou, quem sabe, mesmo nesse espaço. Fenómenos do passado, com a ASD ou o PRD, podem ter tido uma contribuição desta volatilidade discursiva dos candidatos ao poder. Já quanto ao aparecimento e florescimento de partidos nos extremos do arco político, é praticamente inevitável a sua associação ao divórcio entre o prometido e o realizado.

Os eleitores descontentes, ou incrédulos, durante muito tempo manifestaram-se com um aumento crescente da abstenção, sem que isso induzisse uma alteração na forma de fazer política. Aos incrédulos juntaram-se os revoltados, que não deixam de votar, mas fazem-no optando pelos partidos nos extremos do arco político e mesmo, como vem acontecendo recentemente, esticando o arco para fora dos limites da democracia.

Como se diz em educação, é sempre bom aprender com os erros dos outros, embora neste caso tal não tenha acontecido. Não aprendemos em tempo suficiente e estamos numa curva ascendente desses fenómenos, correndo o risco de ser acelerada.

Temos até 10 de março para abrandar o fenómeno de crescimento da extrema-direita. É preocupante ouvir jovens que, tendo nascido 10 ou 20 anos depois do 25 de Abril, querem uma alternativa e esperam encontrá-la dando votos à extrema-direita.

Temos todos obrigação de contribuir para mudar o sistema, lutando por ele e não abandonando-o à sua sorte, ou seja, empurrando-o para fora do arco democrático. Isso faz-se votando pela positiva e não usando o voto para "bater" nos políticos que "nos enganaram".»

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1 comments:

Fenix disse...


"... mas fazem-no optando pelos partidos nos extremos do arco político e mesmo, como vem acontecendo recentemente, esticando o arco para fora dos limites da democracia."

É caso para questionarmos: e porque raio é que numa democracia existem partidos, aceites por um tribunal constitucional, que estão fora dos limites da democracia?! O Tribunal Constitucional é composto por pessoas democratas distraídas...?!

E, para colmatar essa falha pede-se ao "povo ignaro" que saiba votar bem...