«O equilíbrio das sondagens, os anúncios de um combate decisivo nas televisões ou a manifestação dos polícias à porta do Capitólio tinham criado um natural clima de tensão que só por milagre não contaminaria o debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro desta segunda-feira. A truculência das interrupções que se multiplicaram ao longo de 79 minutos expôs essa tensão e criou um ruído excessivo e incómodo. Mas seria uma enorme injustiça dizer que o debate foi tempo perdido. Não foi porque, no essencial, foi possível distinguir os perfis dos dois candidatos a primeiro-ministro, bem como os programas que os separam.
Pedro Nuno Santos mostrou finalmente um pouco do seu nervo. Por vezes de mais. Luís Montenegro confirmou que as boas prestações em debates anteriores não foram por acaso. Mas foi mais vulnerável ao jogo de nervos que o seu opositor. Ambos se interromperam vezes de mais, mas a dado momento parecia que o líder do PSD estava a entrar em transe.
Pedro Nuno Santos entrou em grande, classificando com as palavras certas o que estava a acontecer lá fora: uma coação que ameaça a garantia da ordem pública. Montenegro ficou-se por uma declaração anódina. Daí para a frente, Montenegro explorou as vantagens de ter uma folha em branco (com excepção das heranças da troika) e Pedro Nuno Santos revelou as dificuldades em defender os legados do PS na Saúde, na Educação ou na Habitação.
Pedro Nuno Santos foi mais eficaz a demolir o programa económico do PSD exactamente pela mesma razão: a economia e as finanças públicas são, neste momento, o ás de trunfo dos socialistas. O líder do PS foi melhor no curto esclarecimento que fez sobre os cenários pós-eleitorais. Mas, como seria de esperar, teve dificuldades em dizer que vai mudar as políticas públicas essenciais depois de ter passado sete anos num Governo que as deixou avolumar.
Para os militantes, é possível dizer que os seus líderes estiveram bem. Para os eleitores mais à esquerda ou à direita, talvez fiquem os dois mal na fotografia. Para os indecisos, porém, o debate pode ter sido esclarecedor. Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro revelam estilos diferentes e puderam mostrar que os seus programas, mesmo tocando-se em questões essenciais, são diferentes e obedecem a prioridades diferentes. Não foi assim tão mau.»
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