«Se a visibilidade mediática for um critério para mobilizar o eleitorado e criar uma dinâmica de vitória, a semana terá beneficiado claramente Luís Montenegro. Desde a aparição de Pedro Passos Coelho, que conseguiu um retumbante pleno na atenção dos partidos, até ao incidente com a tinta verde que atingiu o líder social-democrata, passando pela polémica do aborto e pelo negacionismo climático, os holofotes estiveram sempre virados na mesma direção. Resta saber o que sobra quando se faz uma leitura crítica das polémicas que obrigaram Montenegro a permanentes clarificações.
Há óbvias diferenças de impacto e de consequências nos sucessivos casos que fizeram a semana da AD. Paulo Núncio ou Eduardo Oliveira e Sousa não têm o peso político nem a autoridade de Passos Coelho, que continua a ser uma das personalidades mais respeitadas no PSD. Mas o facto é que ambos estão em posições de destaque nas listas (o vice do CDS é número quatro em Lisboa e o antigo presidente da CAP cabeça de lista por Santarém) e as declarações que proferiram foram feitas em nome da AD e em eventos de campanha, não sendo fácil - como tentou Luís Montenegro - reduzi-las à expressão de opiniões pessoais.
Tudo somado, a semana teve associações perigosas entre imigração e aumento da perceção de insegurança, críticas à ideologia de género nas escolas, defesa de um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, ataque às “falsas razões climáticas” que travam investimentos e alusão a milícias armadas nos campos. Algumas das frases proferidas contra a extrema-esquerda em Santarém facilmente se confundem com os ataques de André Ventura à “esquerdalhada”.
É possível admitir que essa aproximação é tática e visa secar a extrema-direita, mas há dois riscos evidentes nesta análise. Desde logo, são claras as divergências dentro dos partidos que integram a AD e dentro do próprio PSD relativamente a algumas das matérias, incluindo nos cenários de (não) diálogo com o Chega. Um segundo, mais grave, está demonstrado internacionalmente: longe de secar os extremismos, esse caminho é uma via rápida para a legitimação e normalização de discursos radicais e de propostas até agora fora da agenda dos partidos moderados. Resta saber se é ruído de campanha, ou sementes de um futuro a chegar.»
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