«Sempre que um sectário diz que não se deve criticar o nosso lado porque isso é dar armas ao adversário, eu acho que ele está a dar armas ao adversário. Espero que isso tenha ficado mais claro após o debate que na semana passada opôs Donald Trump a Joe Biden. Ao longo dos últimos quatro anos, talvez tivesse sido bom haver alguém a dizer que um candidato que terá 82 anos no dia da eleição não é a escolha ideal para cumprir mais um mandato até 2028. Talvez tivesse sido bom ouvir alguém dizer que era óbvio que a evolução do estado de saúde de Joe Biden não o recomendava para uma nova candidatura. Mas isso, lá está, teria implicado violar a regra de não criticar o nosso lado. Assim, em vez de não darmos armas ao adversário, resolvemos não dar um adversário ao adversário.
Não teria sido muito difícil. Biden é velho e frágil, mas tendo em conta que Trump também tem 78 anos e é conhecido por ter proposto administrar uma injecção de desinfectante aos pacientes para curar a covid, a fasquia para um debate deste tipo estava, à partida, colocada muito em baixo. O candidato que conseguisse terminar uma frase, dar a sensação de saber onde estava ou manter a boca fechada enquanto o outro falava, obtinha uma vantagem importante. Infelizmente, Biden não foi capaz de cumprir nenhum destes objectivos. Por isso, no final do debate, o tema eram as coisas que Biden tinha dito e ninguém tinha percebido, em vez de serem as coisas que Trump tinha dito e toda a gente tinha percebido bem demais, como a alegação de que, nos Estados governados por políticos democratas, as pessoas podem executar os bebés após o nascimento. O tema eram as perguntas a que Biden não respondeu porque não consegue, em vez de serem as perguntas a que Trump não respondeu porque não quer, tais como: “Vai aceitar os resultados eleitorais?” O tema eram as frases incompletas de Biden, em vez de serem as frases completas de Trump, como por exemplo: “Neste momento há 10 mil milhões de guatemaltecos a atacar o memorial do Lincoln.” Trump já tinha conseguido a proeza de transmitir a ideia de que não pertence à elite quando é um milionário que tem o privilégio de não pagar impostos, e já se tinha apresentado como o salvador que vai “drenar o pântano” quando a sua conduta dificilmente poderia ser mais pantanosa. Agora, aos 78 anos, Trump consegue impor, por comparação, a ideia de que é um jovem enérgico. É por isso que continuo a achar que criticar o nosso lado é bastante importante. Até para continuarmos a ter um lado. A alternativa é o nosso lado perder por falta de comparência.»
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