«Quando me disseram que a extrema-direita tinha levado uma grande tareia no 25 de Abril, pensei que o meu interlocutor estava a falar de História. Afinal, não eram notícias antigas. Alguns cidadãos de índole autoritária tinham resolvido organizar uma festa com porco no espeto, no passado dia 25 de Abril, e, para surpresa de todos, os convivas acabaram por revelar uma inclinação para a violência. A polícia teve então de acalmar os desordeiros recorrendo a umas bastonadas na ilharga e a uns bofetões nas ventas. O porco no espeto não foi o único que ficou com o lombo a arder. O caso tem dois ou três aspectos bastante misteriosos. Primeiro, não se percebe bem o que é que os vândalos teriam para comemorar no Martim Moniz, naquele dia, em vez de estarem em casa, a chorar, em posição fetal. Que a extrema-direita festeje o 25 de Abril faz tanto sentido como os perus quererem celebrar o Natal. Talvez estes energúmenos tenham percebido mal certas palavras de ordem que se gritam naquele dia, mas é melhor que alguém lhes explique — com o auxílio de desenhos, talvez — que “Fascistas, rua!” não é um pedido para que eles saiam de casa.
Pessoalmente, não me oponho a que a polícia passe a dar umas traulitadas em fascistas por ocasião do 25 de Abril. Parece-me uma tradição interessante, além de esteticamente agradável. E consegue manter vivo o espírito de Abril, porque, em 1974, os fascistas fugiram para o calor do Brasil, mas em 2025 também ficaram quentinhos. Há 51 anos foram ouvir os ritmos musicais sul-americanos, mas na semana passada também ficaram com os ouvidos a tinir por causa de lambada. E as bastonadas da polícia são uma forma um pouco mais vigorosa de ministrar um curso intensivo de cidadania. Os manifestantes violentos receberam uma importante lição sobre empatia e foram estimulados a colocar-se no lugar do outro, uma vez que ficaram todos negros.
O dia acabou de forma ainda mais inesperada quando Rita Matias, do Chega, disse na CNN Portugal que a actuação da polícia tinha sido excessiva. Foram muitas surpresas seguidas. A extrema-direita quis fazer uma patuscada para celebrar o 25 de Abril e o Chega admitia que, afinal, sempre é possível a polícia exceder-se quando faz intervenções no Martim Moniz. Não admira que, três dias depois, o apocalipse tenha chegado sob a forma de apagão.»
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