20.11.25

Cristiano Ronaldo não é embaixador de Portugal.

 


«Cristiano Ronaldo não é embaixador de Portugal. Cristiano Ronaldo é embaixador de Mohammed bin Salman, monarca absolutista da Arábia Saudita, um país onde a justiça é a sharia e onde não há liberdade de imprensa nem direitos políticos elementares. Cristiano tem um contrato com o Ministério do Turismo saudita para promover o turismo desse país.

Mohammed bin Salman, a quem Cristiano chama MBS, é acusado de mandante de um dos crimes mais horríveis cometidos contra jornalistas, no século XXI.

A 2 de Outubro de 2018, o jornalista Jamal Khashoggi, do Washington Post, foi atraído ao consulado saudita em Istambul, onde um comando de agentes sauditas o torturou, matou e desmembrou. Um relatório da CIA revelou que a ordem de execução partira diretamente de MBS.

A condenação deste crime foi universal e a viúva de Jamal Kashoggi, Hatice Cengiz, tem-se destacado como uma defensora dos direitos humanos e da justiça e da memória de seu marido. Após a morte de Jamal, ela tem atuado em campanhas internacionais para denunciar o crime, tentar a responsabilização dos culpados e promover a liberdade de imprensa, os direitos civis e proteção dos jornalistas.

Em Washington, MBS foi recebido em apoteose. Trump foi à porta do carro que transportava o saudita e abriu os braços, apalpou convenientemente Sua Majestade e levou-o para a Sala Oval ao som de música e enquanto aeronaves sulcavam os ares. Aí, o saudita foi interrogado por uma jornalista sobre o hediondo crime atrás referido, e o candidato a ditador americano saltou em defesa do seu convidado, que resfolegava de júbilo. Mas não se limitou a defender a inocência do presumível assassino. Vilipendiou a memória da vítima, chamando-lhe”controverso “e intimidou a jornalista, declarando que iria cessar a autorização à sua estação, a ABC News.

Em tempos que já lá vão, os jornalistas teriam abandonado a Sala Oval em sinal de solidariedade com a colega e de defesa da Primeira Emenda da Constituição. Mas agora há demasiado ouro na Casa Branca. E parte desse ouro é saudita. Trump continuou a apalpar MBS até ao jantar em que Cristiano Ronaldo teve um lugar à mesa onde não faltava Musk.

Em Portugal o Presidente da República congratulou-se. O treinador da seleção de futebol, um refém de CR7, congratulou-se. Todos se devem ter congratulado e outros tantos se virão a congratular.

CR7 é um magnífico futebolista em fim de carreira, cuja dificuldade em perceber a idade da reforma não beneficia a seleção nacional de futebol. Todos lhe reconhecem o estatuto de figura grande do futebol. E também tem direito a celebrar contratos secretos com o regime de MBS para promoção do país onde trabalha. Mas quando o faz, quando se diz admirador de Trump, quando diz “partilhar com ele várias características”, não queira ser ao mesmo tempo exemplo para a juventude e embaixador de Portugal. Não em meu nome.

Luís Januário no Facebook.


1 comments:

Albino Manuel disse...

Todos se curvam. Até a Santa Madre Igreja, que aceitou fazer o baptismo - publicitado na tv - do filho encomendado algures, à revelia da doutrina moral da Igreja.