25.10.11

A Líbia, ainda


Regresso ao tema que, sem surpresa, está a siar da boca de cena, enterrado que está um cadáver algures nas areias de um deserto. E regresso porque Manuel António Pina vem hoje reforçar as reacções que tive desde as primeiras horas.

«E que dizer da "satisfação" pela horrorosa morte infligida ao ditador manifestada por governos que ainda há pouco o sabujavam e lhe iam comer à mão (como agora farão com os novos senhores de Trípoli) na mira de uns dólares ou um contrato petrolífero? Quantos desses governos não foram eleitoralmente financiados com o dinheiro sujo de Khadafi ou - como o britânico, que não hesitou em libertar o autor do atentado de Lockerbie, que vitimou centenas de inocentes, em nome dos negócios da BP - teriam motivos para temer o que o ditador pudesse revelar se viesse a ser sujeito a julgamento?»

Entretanto, para o que aí vem, um conselho de leitura: La Libye, un pays «fondamentalement conservateur et tribal»

P.S. - Fica o texto de MAP na íntegra já que, por motivos incompreensíveis e que julguei entretanto ultrapassados mas que não o estão, o link de hoje para ao JN deixará de funcionar amanhã…

Mãos sujas

O que os rebeldes líbios apoiados e armados pelos países ocidentais fizeram a Khadafi antes de, finalmente - no interior da ambulância que o conduzia, já moribundo, a um hospital -, o executarem a tiro, começa a vir a público graças aos telemóveis com que os fanfarrões filmaram as suas proezas e é, pela sua natureza sórdida, algo que justifica os piores receios de que, ao anterior regime sanguinário de Trípoli, tenha sucedido outro.

Pois que esperar de gente capaz de torturar selvaticamente um homem ferido seu prisioneiro, quem quer que esse homem fosse, chegando ao ponto de o sodomizar com um pau!, submetendo-o, entre urros de gáudio, a todo o tipo de violências e humilhações?

E que dizer da "satisfação" pela horrorosa morte infligida ao ditador manifestada por governos que ainda há pouco o sabujavam e lhe iam comer à mão (como agora farão com os novos senhores de Trípoli) na mira de uns dólares ou um contrato petrolífero? Quantos desses governos não foram eleitoralmente financiados com o dinheiro sujo de Khadafi ou - como o britânico, que não hesitou em libertar o autor do atentado de Lockerbie, que vitimou centenas de inocentes, em nome dos negócios da BP - teriam motivos para temer o que o ditador pudesse revelar se viesse a ser sujeito a julgamento?

A única conclusão possível é a de que somos governados por gente capaz de tudo, que talvez limpe educadamente os pés mas tem as mãos sujas.
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