«Em Itália, Beppe Grillo, o cómico transformado em político, saiu de cena. Em Portugal, o homem conhecido por abraçar Guterres e ir a "reality shows", Tino de Rans, ou mais prosaicamente Vitorino Silva, promete ficar por aqui. "Não vou parar por aqui", prometeu. (…)
Candidatos como Tino de Rans são demasiado frágeis para amolgar a hegemonia dos partidos, mas são um sinal de que um dia algo pode surgir, ou seja, uma tempestade tropical provocada pelo aquecimento global dos partidos e pelo efeito do calor no discernimento dos líderes. Mas, até lá, a vitória de Marcelo tem outros efeitos. Sossega, pelo menos para já, António Costa na direcção do Governo, gerindo entre as múltiplas sensibilidades e interesses que se cruzam no Parlamento e nas sedes sindicais.
A vitória de Marcelo é sobretudo o toque de finados para Pedro Passos Coelho: a sua reforma antecipada é agora inevitável, porque o mundo onde foi fermentado secou. Marcelo, apoiado por Passos depois de este ter engolido um sapo, é pelo consenso e não pela política das pedradas. O teatro de comédia para este terminou ao intervalo. E já não volta, nem como "compère". Como se provou na curta declaração, sem açúcar ou sal, que debitou na noite presidencial. Tino de Rans, pelo menos, sorriu imenso após os resultados. Passos Coelho declarou o seu próprio fim. Como se fosse uma tragédia. E não o é.»
Fernando Sobral
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