Por portas googleanas mais do que travessas, tropecei ontem no nome de um francês que foi uma das pessoas mais carismáticas que conheci nos meus vinte e cinco anos de IBM: Jean-Paul Nerrière (JPN).
Cruzámo-nos nos últimos anos da década de 80, quando ele era, em Paris, um dos vice-presidentes da IBM Europa e eu estava na Bélgica em «destacamento» (assignment, chamávamos-lhe nós). JPN lançava então o embrião do negócio de Serviços a nível europeu (contra ventos e marés, numa empresa em que toda a cultura assentava apenas na venda de Hardware e de Software) e eu era responsável pela formação dos técnicos de sistema europeus em algumas qualificações relacionadas com o dito negócio de Serviços: gestão de projectos, consultoria, etc. Trabalhei, por este motivo, em íntima colaboração com JPN e com a sua equipa.
Pouco depois de o conhecer, assisti a uma conferência em que ele se dirigia a uma plateia, cinzenta e engravatada, de algumas centenas de pessoas e na qual fez uma subtil comparação entre as características e as prováveis negras perspectivas de futuro para as estruturas hierárquicas, muito rígidas, de três entidades: IBM, Igreja católica e União Soviética. Referi-lhe mais tarde esta sua intervenção, como ela me tinha admirado, calado fundo e porquê. Limitou-se a sorrir e comentou: «É bem possível que tenha sido a única pessoa a perceber onde é que eu queria chegar». Estávamos em 1987 ou início de 1988 – com o muro de Berlim inteiro e as organizações em rede nas multinacionais ainda no mundo dos futuríveis. JPN saiu da IBM poucos anos mais tarde.
Tudo isto para situar o personagem que é autor de um livro – Don't Speak English, Parlez Globish –, título que eu tinha visto em tempos mas sem lhe prestar atenção. Teve uma primeira edição em 2004 e uma segunda em 2006. Quando vi ontem quem era o seu autor, quis lê-lo imediatamente. Telefonei, em vão, para várias livrarias. Já conformada a esperar pelo resultado de uma encomenda na FNAC ou no Amazon, voltei à net. Eis senão quando, milagre dos milagres, encontrei um site onde, por 13,5 euros, me foi possível obter, imediatamente, uma versão PDF do livro!
Já vai muito longo est post e ainda não cheguei ao Globish. O que é? Um sonho, um projecto a que JPN se dedica desde que se reformou (deve ter agora 66 anos), já com patente registada, dois livros traduzidos em várias línguas, um site, entrevistas e muitas polémicas.
A sua experiência em Paris e, sobretudo, a de viajante por todo o mundo como vice-presidente da IBM USA (para onde foi em 1989) fê-lo perceber, no dia a dia, que as pessoas que não têm o inglês como língua materna, e que constituem 88% da humanidade, se entendem muito melhor entre si (em inglês...) do que quando alguém que pertence aos outros 12% se mete na conversa – obviamente porque usam um inglês muito mais rudimentar. Quem trabalhou em alguma instituição internacional e não sentiu isto na pele?
Nasceu então em JPN a ideia de criar uma língua «inglesa» com um máximo de 1 500 vocábulos, para facilitar a comunicação a nível global e colocar todos os intervenientes em pé de igualdade. Não desiste de a ver reconhecida pela União Europeia e pela ONU.
A ideia de criar uma língua comum é tudo menos uma novidade. Estamos perante mais um sonho, mais uma utopia? Talvez. Mas porque não? Vindo de quem vem, não é certamente trivial. (E o Globish é certamente mais fácil do que o Rongorongo!)
Vou continuar a ler as minhas 288 páginas impressas em casa e voltarei quando acabar e tiver percebido minimamente de que é que se trata.
Cruzámo-nos nos últimos anos da década de 80, quando ele era, em Paris, um dos vice-presidentes da IBM Europa e eu estava na Bélgica em «destacamento» (assignment, chamávamos-lhe nós). JPN lançava então o embrião do negócio de Serviços a nível europeu (contra ventos e marés, numa empresa em que toda a cultura assentava apenas na venda de Hardware e de Software) e eu era responsável pela formação dos técnicos de sistema europeus em algumas qualificações relacionadas com o dito negócio de Serviços: gestão de projectos, consultoria, etc. Trabalhei, por este motivo, em íntima colaboração com JPN e com a sua equipa.
Pouco depois de o conhecer, assisti a uma conferência em que ele se dirigia a uma plateia, cinzenta e engravatada, de algumas centenas de pessoas e na qual fez uma subtil comparação entre as características e as prováveis negras perspectivas de futuro para as estruturas hierárquicas, muito rígidas, de três entidades: IBM, Igreja católica e União Soviética. Referi-lhe mais tarde esta sua intervenção, como ela me tinha admirado, calado fundo e porquê. Limitou-se a sorrir e comentou: «É bem possível que tenha sido a única pessoa a perceber onde é que eu queria chegar». Estávamos em 1987 ou início de 1988 – com o muro de Berlim inteiro e as organizações em rede nas multinacionais ainda no mundo dos futuríveis. JPN saiu da IBM poucos anos mais tarde.
Tudo isto para situar o personagem que é autor de um livro – Don't Speak English, Parlez Globish –, título que eu tinha visto em tempos mas sem lhe prestar atenção. Teve uma primeira edição em 2004 e uma segunda em 2006. Quando vi ontem quem era o seu autor, quis lê-lo imediatamente. Telefonei, em vão, para várias livrarias. Já conformada a esperar pelo resultado de uma encomenda na FNAC ou no Amazon, voltei à net. Eis senão quando, milagre dos milagres, encontrei um site onde, por 13,5 euros, me foi possível obter, imediatamente, uma versão PDF do livro!
Já vai muito longo est post e ainda não cheguei ao Globish. O que é? Um sonho, um projecto a que JPN se dedica desde que se reformou (deve ter agora 66 anos), já com patente registada, dois livros traduzidos em várias línguas, um site, entrevistas e muitas polémicas.
A sua experiência em Paris e, sobretudo, a de viajante por todo o mundo como vice-presidente da IBM USA (para onde foi em 1989) fê-lo perceber, no dia a dia, que as pessoas que não têm o inglês como língua materna, e que constituem 88% da humanidade, se entendem muito melhor entre si (em inglês...) do que quando alguém que pertence aos outros 12% se mete na conversa – obviamente porque usam um inglês muito mais rudimentar. Quem trabalhou em alguma instituição internacional e não sentiu isto na pele?
Nasceu então em JPN a ideia de criar uma língua «inglesa» com um máximo de 1 500 vocábulos, para facilitar a comunicação a nível global e colocar todos os intervenientes em pé de igualdade. Não desiste de a ver reconhecida pela União Europeia e pela ONU.
A ideia de criar uma língua comum é tudo menos uma novidade. Estamos perante mais um sonho, mais uma utopia? Talvez. Mas porque não? Vindo de quem vem, não é certamente trivial. (E o Globish é certamente mais fácil do que o Rongorongo!)
Vou continuar a ler as minhas 288 páginas impressas em casa e voltarei quando acabar e tiver percebido minimamente de que é que se trata.
1 comments:
Aprecie-se ou não JPP, - esta do Rongorongo está o máximo ! :)))
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