1.6.08

No 24 de Abril












Manuela Ferreira Leite tinha trinta e três anos em Abril de 1974. Recordam hoje os jornais que era então assistente no ISCEF, vulgo Económicas, e que não se lhe conhece qualquer actividade de carácter político durante os tempos de ditadura.

Fico sempre inquieta com passados deste tipo em pessoas com responsabilidades significativas e que tenham hoje mais do que cinquenta e cinco ou sessenta anos. No caso concreto, preferia que MFL tivesse pertencido, convictamente, à União Nacional ou ao Jovem Portugal, à Ala Liberal (como Sá Carneiro, Balsemão e alguns outros dos seus correligionários) ou a quaisquer outros partidos ou movimentos, de direita ou de esquerda.

Ela não nasceu numa escondida aldeia do interior, não cresceu em Boliqueime nem tem a desculpa de ter subido na vida a pulso. Mais: viveu os últimos anos do fascismo numa Faculdade especialmente agitada. Lembro, de cor e a título de exemplo, que o estudante Ribeiro dos Santos lá foi assassinado pela PIDE, em Outubro de 1972, e que Francisco Pereira de Moura, que foi certamente professor de MFL e provavelmente também seu colega, foi expulso da universidade e da função pública, em 1973, por ter cometido o terrível «crime» de participar numa vigília pela paz na Capela do Rato.

Passou MFL distraidamente por isto tudo? Parece que sim. Diz-se que só tinha actividade em círculos cristãos. E esses não eram, garantidamente, os dos chamados católicos progressistas - ou eu tê-la ia conhecido.

Quem foi politicamente insensível aos trinta, em tempos de ditadura, dificilmente acertará quase aos setenta, mesmo em democracia.

11 comments:

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo com o último parágrafo, mas o que vamos fazer com a senhora?
O Sócrates, é capaz de saber, não acha?
Porque será que o Sócrates manda tanto no PSD?
O que é que está mal,é o Sócrates ou o PSD?
Ou os dois?
Ou nenhum?
Pronto não faço mais perguntas!

Joana Lopes disse...

São muitas pergunras, de facto.
Mas eu não diria que Sócrates manda no PSD. Porquê?

João Gaspar disse...

Quem foi politicamente insensível aos trinta, em tempos de ditadura, dificilmente acertará quase aos setenta, mesmo em democracia.

clap, clap, clap.
respeituosa vénia.

Joana Lopes disse...

Gosto do clap, clap e do «respeitosa»...

João Gaspar disse...

oops!

detesto e envergonho-me tanto quando não é gralha. estava mesmo convencido que «respeituosa» existia. ;)


mas o respeito está lá, que é o que interessa. e com o mesmo respeito com que me deliciei a ler a frase, desavergonhadamente a "roubei".

Anónimo disse...

São mesmo esses que acertam. Em alegre e fraterna companhia de outros que foram, mas já não são (nem se lembram de que foram).

Joana Lopes disse...

À segunda, espero ter percebido - continuas cristalina!

Mas, como digo no «post», sempre prefiro os que já foram o que quer que seja.

Anónimo disse...

É, Joana, vale a pena "ser-se"...

Joana Lopes disse...

Olá, Ana.

Ser-se, ter-se sido...

Anónimo disse...

À falta de melhor argumento, perante opiniões de que discordava, devo ter dito alguma vez a alguém, nas discussões mais acaloradas dos tempos imediatos ao 25 de Abril: "com tantas ideias brilhantes, onde é que estavas no dia 24?".

Posteriormente percebi que havia algo de chantagem no método, que os porta bandeiras anteriores à data não detinham o monopólio da verdade, nem muitas vezes sequer as melhores ideias, e menos ainda que constituissem o exército de iniciados suficiente para levar a "revolução" a bom termo.

Esta é apenas a outra face da questão. Obviamente que o caso concreto de MFL, de que relevam os aspectos apontados pela Joana, como é evidente legitimam todas as suas reticências. Contudo, as razões para não me regozijar com o ressurgimento político da personagem têm única e simplesmente a ver com o facto de não lhe perceber ideias ou projectos - nem na sua família ideológica - para resolver os problemas sociais actuais, e não por, no tal dia 24 e nos que o antecederam, se encontrar pacatamente a tratar da vidinha. Afinal, como a maioria: antes e depois.

nelson anjos

Anónimo disse...

Só hoje, por puro acaso(estava a "espreitar" outro blog), caí neste post. Bem sei que passaram entretanto muitos dias. Mas estou tão de acordo com ele que não resisto a deixar aqui o meu apoio.

Como não sou blogger, deixo-le aqui o meu endereço :
http://transdisciplinar.blogs.sapo.pt