21.10.09

Mas também descubro outras diferenças









Retomo o diálogo com o João Tunes que acaba de se referir a um post deste blogue.

Assino tudo o que ele diz e também eu dava «os meus trinta [e alguns] anos vividos em ditadura para troca de uma qualquer democracia, mesmo que mal amanhada» - sem hesitação.

Mas a «humildade democrática e cidadã do anterior Presidente da República a cumprir voluntariamente o serviço cívico de membro vulgar de uma mesa de voto», nas últimas eleições autárquicas, tem tudo a ver com isto:
«O Presidente da República [Jorge Sampaio] lembrou-se dos tempos em que exerceu uma função fiscalizadora, juntamente com Francisco Salgado Zenha, quando procuraram controlar o processo eleitoral "nas supostas eleições de 1969".»

Não sei por onde andava então aquele senhor que hoje vive em Belém e diz umas coisas estranhas ao país. Já não estava em Boliqueime, mas dou alvíssaras a quem o tenha visto numa sessão da CDE ou da CEUD, nas arruaças do futuro MRPP ou mesmo na Ala Liberal de Marcelo Caetano. É esse «mundo», ou outro qualquer, que lhe faz falta – e a nós, por tabela.

1 comments:

José de Sousa disse...

Por onde então andaria aquele senhor?
Eu não subscrevo, de maneira alguma,o que apareceu no Correio da Manhã e de que transcrevo uma parte. E, contudo, tenho a percepção de que Cavaco Silva é aquele homenzinho que aí nos aparece. Lembro-me duma entrevista que Alfredo de Sousa deu à Sacadura Cabral, em que dizia de forma muito dura o que naquele texto podemos ler sobre o “trabalho” de Cavaco Silva na Universidade Nova (acusava-o de não dar aulas pelas quais ia recebendo), assim como recordo uma entrevista (ou artigo ?) de Ferro Rodrigues em que contava o episódio da grande perturbação do professor Cavaco ao ser contestado pelos seus alunos.
Por onde andava aquele senhor? A tratar da sua vidinha, claro. O que nunca deixou de fazer.

Transcrevo parte do texto de Manuel Catarino, publicado no Correio da Manhã de 23 de Janeiro de 2006, e ponho, no fim, o link de acesso a todo o artigo. Creio que foi nessa data, mas poderá haver um engano.

“Aníbal passa a ser hóspede de um casal algarvio, amigo da família, num espaçoso andar de Campo de Ourique. Os donos da casa são tios de Maria Alves – e ele encontra lá a futura mulher, meses mais velha, aluna de Germânicas, na Faculdade de Letras.
Casam-se ainda ele vai no último ano do curso. A tropa não lhe concede adiamento e é mobilizado para Moçambique. Aníbal e Maria dão o nó, em 20 de Outubro de 1963, na Igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, para poderem ir juntos para Lourenço Marques. Regressam à Metrópole, Cavaco Silva termina o curso e fica como assistente do professor Alves Martins. Em 1971, já com os dois filhos, Patrícia e Bruno, a família vai para Inglaterra, onde na Universidade de York, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, Cavaco faz o doutoramento.
PROFESSOR CONTESTADO EM FINANÇAS PÚBLICAS
A contestação política que a partir de 1968 agita as universidades portuguesas abate-se sobre Cavaco Silva. No Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), onde é assistente da cadeira de Finanças Públicas, o remoinho da crise estende-se ao campo científico. Cavaco Silva é contestado. Introduz na cadeira os testes à americana – a gota de água que leva à revolta dos alunos. A matéria debitada parece assentar como uma luva na ideologia do regime. Numa das aulas a turma de Ferro Rodrigues põe em dúvida a eficácia do método de avaliação e a ciência do assistente.
Cavaco fica à beira de um desmaio – e um contínuo traz-lhe um copo de água. Mais tarde, em 1975, os alunos riem-se a bandeiras despregadas com um ensinamento do professor. “Vocês vão ver. Um dia, hei-de ser primeiro-ministro”, respondeu-lhes Cavaco.
SALVO DE PROCESSO DISCIPLINAR PELO MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Cavaco Silva, em 1978, acompanha um grupo de professores que abandona o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Discordam da orientação pedagógica na escola. Entre eles, Alfredo de Sousa, Abel Mateus, António Girão, Manuel Pinto Barbosa. Fundam a Faculdade de Economia da Universidade Nova. Em 1985, já então líder do PSD, Aníbal Cavaco Silva é alvo de um processo disciplinar – por iniciativa do director da Faculdade, Alfredo de Sousa, que acusa o professor Cavaco Silva de não ter cumprido, por faltas, as suas obrigações académicas.
O Governo do Bloco Central, chefiado por Mário Soares, dá as últimas. O ministro da Educação, João de Deus Pinheiro, evita a nódoa na carreira de Cavaco Silva: concede-lhe uma licença sem vencimento e as faltas são esquecidas.”

http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?channelid=00000009-0000-0000-0000-000000000009&contentid=00189068-3333-3333-3333-000000189068