Como adenda a este meu post, leia-se um importante artigo publicado no Público de hoje: China: a fábrica do mundo também quer ter carro e casa própria
«A China já se está a preparar para produzir em outsourcing daqui a duas décadas. É clara a sua influência em África e o cruzamento com empresários e bancos africanos. Conhecemos poucas marcas mundiais chinesas e podem testá-las nesta região antes de as lançar no mercado global. África será a fonte de mão-de-obra barata.» (O sublinhado é meu.)
Parece evidente que isto acontecerá. Até quando serão os africanos os elos mais fracos desta terrível engrenagem?
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6 comments:
Torço sempre o nariz a estas análises europocêntricas, cara Joana.
Em 1º lugar, e sobre o seu post anterior referido por este, já há décadas que os chineses eram famosos por trabalharem espantosamente muito. É até por isso que houve quem sonhasse com vir a ter doutorandos chineses por cá, porque "lá fora" cheguei a vê-los terem um colchão ao lado do PC no laboratório onde investigavam. A nós faz-nos impressão mas é porque há muito que temos horários de trabalho limitados.
Já quanto a África é o oposto. Se aquela gente desse para trabalho autónomo, há muito tempo que os ocidentais tinham feito outsourcing para lá. Ora na verdade, não o fizeram em nenhuma actividade económica! E, para quem tem projectos em Angola ou Moçambique, por exemplo, é sabido que as empresas portuguesas não têm hipótese de competir com as chinesas porque qualquer actividade lá carece dos técnicos e capatazes estrangeiros. Ora os ocidentais pedem uma fortuna para irem para lá, enquanto os chineses dormem em contentores sem problemas. Vi isso com os meus olhos, em Angola e Moçambique. Assim como sei de amigos angolanos que se vêm aflitos para construir uma simples casa, se não estiverem sempre presentes durante as obras; se não estiverem, os tijolos e outros materiais vão fluindo, mas as paredes é que nunca crescem... :-)
Caro Pinto de Sá,
Por acaso, sou normalmente acusada de ser pouco «eurocêntrica»...
Mas indo ao principal: claro que os chineses (e muitos outros orientais) sempre foram conhecidos por trabalharem muito. Mas o que é recente é o «boom» da economia chinesa e tudo o que isso implicou - e implicará - em termos de movimentação de milhões de pessoas e respectivo desenraizamento, explosão de multidões que entram em sociedade de consumo, respectivas convulsões sociais, etc.
Quanto ao que diz sobre os africanos, desculpar-me-á mas parece-me chocante e podia adjectivá-lo de vários modos. Mas vou por outro lado. São diferentes? Claro, como nós os somos dos anglo-saxónicos, para dar apenas um exemplo. Ou outro: acha que os suecos nos consideram muito «eficazes», «bons gestores»?
Cara Joana, eu sei que o que disse de África é politicamente incorrecto, mas repare que não emiti juízos de valor; apenas de facto, difíceis de negar. Se quisesse explicar os porquês apontaria para a falta de qualquer cultura milenar própria de Estados centralizados, a falta de história industrial, etc. Ou seja, "culparia" a História, nada mais. Como para muitas das nossas próprias características, aliás...
Quanto à China, penso que estão a sofrer apenas as dores da industrialização, pelas quais o Ocidente passou também, com a proletarização de imensas massas de camponeses. Um progresso histórico enorme!
Claro que os comunistas tinham a tradição de se condoerem da sorte dos camponeses cujo estatuto de pequenos proprietarios era ameaçado pela industrialização, e de defenderem a sua causa, mas sabendo perfeitamente que era uma causa historicamente reaccionária. Faziam-no por pura táctica, para uma vez no poder os "colectivizarem" sem piedade.
Por isso, humanamente compreendo que se tenha pena dos chineses neste progresso histórico, caso eles próprios se queixem, o que não me é evidente. Mas já politicamente tenho mais dificuldade em entender isso: os camponeses da província chinesa querem ir para as zonas capitalistas, e não o contrário...
Cordiais saudações e um bom dia!
Estou de acordo praticamente com tudo o que diz, Pinto de Sá.
Mas não se trata (só nem sobretudo) de «ter pena» dos chineses, mas sim de denunciar violações de direitos elementares, que atingem não só os chineses, mas, pelo seu peso e importância, o conjunto da humanidade, no momento presente.
gostaria de pensar diferente mas a áfrica continuará a ser o elo fraco durante muito tempo... de qualquer forma, o capitalismo vai-nos lixar a todos, europa incluída (e não, não gosto de assistir à queda da europa, quando a vejo ser substituída por essa coisa ainda mais predadora chamada china)
De acordo consigo, Ana Cristina, mas nada optimista.
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