12.2.13

Nuno Bragança



Desde esta manhã que sabia que um dos meus amigos fazia anos hoje, sem conseguir de modo algum identificá-lo. A agenda do telemóvel não me ajudou, o Facebook ainda menos, mas a memória acordou agora mesmo: o Nuno Bragança infelizmente não faz, mas faria hoje 84 anos. 

Fui então à procura do que em tempos escrevi e insisto que me é absolutamente impossível imaginá-lo com tal idade porque ele morreu com 56 e eu o «fixei» na casa dos trinta ou quarenta. De uma colheita anterior à minha, foi sempre reconhecido por todos como de vintage absolutamente excepcional, mesmo antes, bem antes, de A Noite e o Riso por aí aparecer com estrondo. 

Errando pelos mesmos meios oposicionistas, os destinos juntaram-nos também em casa de amigos comuns, onde passámos longas semanas de férias – nos tais anos sessenta que por cá também foram loucos, em plena Serra da Arrábida, sem electricidade e quando um gira-discos a pilhas, vindo da América, fez figura do mais sofisticado robot. Um pouco mais tarde, viria a acampar, no sentido estrito da palavra, no minúsculo apartamento em que o Nuno viveu vários anos em Paris. Confirmo o que a lenda conta: saía de casa por volta das cinco da manhã para escrever durante algumas horas, antes de iniciar mais um dia de trabalho. 

Para a História ficou sobretudo o escritor e o excelente documentário U Omãi Qe Dava Pulus, de João Pinto Nogueira. Eu registo também o católico resistente, boémio e espartano, fundador de O Tempo e o Modo, membro do MAR (Movimento de Acção Revolucionária), colaborador das Brigadas Revolucionárias, o conspirador por feitio e por excelência – neste caso não tanto A Noite e o Riso, antes Directa e Square Tolstoi
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2 comments:

Miguel disse...

Joana, lembro-me do Nuno B. em minha casa, 1 ou 2 vezes; eu era miúdo, mas a lembrança (ainda que um pouco enublada), ficou.
Depois de já há anos ter lido os seus livros, duas leituras recentes avivaram-me a memória: o excelente "Nós, os vencidos do catolicismo", do J. Bénard da Costa, e a revisitação do grande e esquecido poeta Cristovam Pavia, um dos seus grandes amigos, e a quem (NB) C. Pavia dedicou aquele que é talvez o seu mais emblemático poema.
Agradeço-te a evocação de um cidadão de corpo inteiro, corajoso (as referências feitas por JBC são a esse respeito suficientemente elucidativas) e magnifico, magnifico escritor
Miguel Teotónio Pereira

Niet disse...

Nuno Bragança traçou e antecipou um novo e revolucionário ciclo na Literatura lusa, a partir dos finais dos anos 60. Trata-se de uma aposta muito forte, diferente e cosmopolita, onde os tópicos desinibidores/libertadores de Maio 68 se assumem e conjugam de uma forma magistral.Sem esquecer as marcas mais livres do discurso e da literatura multissecular de conotação portuguesa. E que contribuiu para arejar e descomplexar os quadros e limitações das propostas maioritárias em vigor nas letras nacionais.Meditem: " E toda a sociedade portuguesa ameaçada de perto pela Europa, para cujos braços multinacionais nos empurraria fatalmente uma qualquer " revolução " burguesa.Europa e eurodolares: não mais do que isso ao nivel do Poder reinante onde as subidas legais de Partidos Comunistas legais trariam a repartição da mediocridade. Códigos de reificação asnosa ".Notável e acutilante,a págs.387, in Directa, O. Completas.
Salut! Niet