30.6.13

O Brasil volta à política?



Nas colunas do Público, Alexandra Lucas Coelho tem vindo a publicar apontamentos, despretenciosos e certeiros, que me têm ajudado a tentar entender um pouco melhor «o miolo» do que está a acontecer no Brasil. É hoje o caso, uma vez mais, num texto publicado na Revista 2 (sem link), do qual aqui ficam alguns excertos.

«Tudo somado — a violência policial descontrolada, as conquistas concretas dos manifestantes, a tentação antidemocrática —, nada me parece tão decisivo como o regresso do Brasil à política, desde que começou o clamor nas ruas. Ou, dito de outra forma, o regresso da política à política: tudo implica todos, todos são cidadãos. Há uma semana, no auge do rebentamento, pareceu-me que, no seu melhor, seria uma espécie de maturidade. Reforço. (...)

Efeito colateral: exercida assim sobre as classes médias, ou sobre todos a eito, esta violência [policial] democratizou o abuso que só os favelados conheciam. Ou seja, estes dias na rua foram também os dias em que o Brasil que não costuma apanhar sentiu na pele como a polícia pode perder o domínio, e o que acontece quando isso acontece. Isso só pode unir mais os brasileiros, diluir as fronteiras entre os cidadãos de direito e os que têm estado fora do alcance do direito, e fazer essas classe médias cobrarem tudo das suas polícias. Em suma, a haver um bom resultado desta violência será uma polícia com menor margem para abusar, mais vigiada por todos, mais consciente. (...)

Esta semana, uma ONG dispôs 594 bolas de futebol no relvado diante do edifício, um dos mais belos de Brasília, aquele côncavo e convexo de Oscar Niemeyer, com duas torres a meio. É uma imagem poderosa no que pode convocar: sim, este é o país do futebol, mas este deve ser muito mais que o país do futebol. E os 594 representantes dentro do edifício foram eleitos só com uma missão: trabalhar para o país. (...)

E aqui entra uma tentação que também ficou exposta no tumulto das ruas brasileiras: a razia antidemocrática. A tolice dos protestos sem foco, ou disparatados até à caricatura, é quase impossível de evitar, uma espécie de doença infantil das manifestações. Mas houve um momento que resvalou para outra coisa, uma espécie de militância antipartidos de tom totalitário. A degradação do Congresso, a corrupção no PT e suas alianças de interesse, o patético PSDB do governador paulista Alckmin e do eterno-candidato Serra, e por aí fora, não provam que a democracia é má. Provam que a democracia é má quando é má, quando se afasta de si própria. E quem diz democracia diz política.» (O realce é meu.)
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1 comments:

NG disse...

A chamada "violência policial descontrolada"
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/sao-paulo-agitadores-queriam-linchar-o-pm-que-cumpria-seu-dever-e-ha-quem-diga-que-isso-nao-e-baderna/