4.6.15

Governo maioritário



«Quando Mefistófeles promete duas décadas de felicidade em troca da alma do doutor Fausto, este decide que o negócio vale a pena. Para que o contrato tenha valor simbólico é assinado com sangue e não com tinta.

É, no fundo, um empréstimo: a felicidade em troca do pagamento com a alma. Nesse aspecto Portugal trocou as voltas a Fausto: empenhou logo a alma em troca dos empréstimos do FMI e da União Europeia. (...)

Os executivos maioritários são uma obsessão do PR. Mas, claro, num mundo político em estilhaços (como se viu agora em Espanha), cada vez vai ser mais difícil fazer alianças e acordos pontuais. E em Portugal, a acreditar no que dizem as sondagens, serão necessários pactos muito complicados para conseguir qualquer Governo maioritário.

A mentalidade bipartidarista está a esboroar-se e chegará a Portugal. No que Cavaco Silva se equivoca é que o grande pacto que Portugal precisa é de longo prazo e não de legislatura e tem a ver com a renovação das instituições políticas e com a premência de um modelo de País em termos económicos, culturais e sociais.

Uma aliança governativa, para garantir um executivo maioritário, é só uma ambição de curto prazo. Só serve para que o Governo cumpra o que Bruxelas, Berlim e Frankfurt impõem. E é aí que Cavaco Silva fragiliza a sua posição e surge mais como um defensor da ortodoxia europeia do que do interesse futuro do País.»

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