«As prioridades dos políticos variam tanto como o sentido do vento. Andámos durante semanas, extraordinariamente coincidentes com a campanha das autárquicas, a ouvir promessas de bonança nas asas da "bazuca" e, quase sem se dar por isso, a discussão do Orçamento do Estado para 2022 entrou na ordem do dia e logo percebemos que, interpretando as prioridades do Governo, afinal, não será bem assim.
Nem a suspensão temporária das regras europeias em matéria de défice e dívida pública, que permitem folga adicional aos países, impediu António Costa de programar um défice de 3,2%, bem próximo já do limite anterior à pandemia (3%).
Os primeiros indicadores auguram, portanto, tempos difíceis para empresas e famílias, até porque - percebe-se pela análise plasmada nas páginas do JN - a prometida revisão dos escalões do IRS parece ter um efeito quase nulo no rendimento disponível dos contribuintes no final do mês.
As metas de João Leão, ministro das Finanças, tornam os próximos tempos de atividade política ainda mais interessantes, uma vez que a contenção orçamental estrangula a capacidade de satisfazer as exigências dos partidos da Esquerda, que neste contexto gostam de aparecer a reclamar o respetivo quinhão de sucesso nas medidas mais populares do documento.
Veremos se o posicionamento de comunistas e bloquistas, os parceiros de uma "geringonça" que no passado funcionou tão bem, se deixa vencer pelo imperativo da contenção orçamental. Seguro é que uma crise política, nesta fase, não agradará a ninguém, restando aos socialistas lançar para a mesa da discussão a meia dúzia de pequenos trunfos que o aperto dos números permite libertar, nada condizentes com a realidade paralela avançada pelos socialistas há tão pouco tempo. Em duas semanas, passamos da luz às trevas, até à próxima campanha eleitoral.»
.
0 comments:
Enviar um comentário