«Olhando para a proporção entre óbitos, internamentos e casos e comparando-a com o que se passava há um ano percebemos as enormes dificuldades que estaríamos a viver se não fosse a vacinação. Aos poucos negacionistas que veem em tudo isto a prova de que as vacinas de pouco servem, não lhes devemos uma vida salva. Aos que andam há dois anos a negar a relevância desta pandemia, já nem sei como se mantêm na sua realidade paralela.
Como se temia, não há controlo de fronteiras que nos vá salvar da Ómicron. Em poucas semanas, esta variante, muitíssimo mais contagiosa, passará a ser absolutamente dominante – 90% até ao fim do mês. Havendo alguns sinais de que é menos letal, é cedo para ter qualquer segurança quanto aos seus efeitos nas hospitalizações ou mesmo nos óbitos.
Segundo a pneumologista Raquel Duarte, o aumento de casos desta variante vai ser tão abrupto que é como se uma “parede” estivesse a subir à nossa frente. Sobre a rapidez com que ela se propaga já sabemos bastante. Sobre a sua gravidade, temos de esperar por dados mais seguros de países com demografia e cobertura vacinal próximas das nossas e que vão à nossa frente. E é a conjugação destes dois fatores – rapidez de contágio e incerteza nos seus efeitos – que leva ao conjunto de medidas que foram apresentadas. Perante a velocidade e a incerteza, é impossível não ter cautela. Mais tarde podia ser tarde demais.
Quando soubermos mais pode ser tarde demais e nenhuma destas medidas teria, então, qualquer efeito. Sobretudo porque estamos no inverno e na quadra das festas que, como percebemos no ano passado, é uma autoestrada para o vírus. Ainda assim, medidas moderadas quando comparadas com outros países – alguns deles com coberturas vacinais menores do que as nossas, é verdade – e sintonizadas com a linha geral da Europa.
A antecipação de medidas previstas para a semana de contenção é coerente e compreensível. A exigência de apresentação de testes também, mas a logística não está a responder à necessidade. Não basta decidir. Compreendendo-se a pausa de Natal e ano novo para quem garante a vacinação, não é fácil explicar que com novas medidas os sinais não sejam de aceleração da dose de reforço, em que não estamos assim tão avançados e parece ser a estratégia de antecipação dos países com que nos comparamos.
O cansaço vai sentir-se. E a campanha, com o inevitável aproveitamento político, não ajudará. Os efeitos económicos destas medidas também serão grandes em alguns sectores que dependem muito do Natal. Mas um confinamento mais exigente é o que temos de evitar a todo o custo, porque não temos capacidade económica nem forças para ele. Isso, e o adiamento do recomeço das aulas, a 10 de janeiro. Nada do que nos é exigido é suficientemente dramático para correr esse risco.»
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