16.9.24

Para Olivença rapidamente e em força

 


«O direito à soberania portuguesa sobre Olivença foi voluntariamente reconhecido por Espanha num tratado assinado no século XIX. Assim como a retrocessão do território. Depois disso, a disputa fronteiriça foi voluntariamente obscurecida por Portugal por ser, ela própria, anacrónica. Membros da União Europeia e com a espanholidade de Olivença totalmente cimentada, o seu significado é menos do que simbólico.

Não é seguramente uma exigência dos oliventinos, que vivem em Espanha e não parecem querer viver noutro lugar. Podem ter dupla nacionalidade e, com uma população de quase 12 mil habitantes, só 746 fizeram essa opção, desde que tal passou a ser possível, há 10 anos. Não parece que se sintam ocupados. Consideram-se espanhóis, acarinhando a sua origem portuguesa. Este debate nem sequer é levado a sério pelos próprios. E nada há pior para uma causa ser uma piada, por mais legitimidade histórica e jurídica que tenha.

No que toca a Olivença, a prioridade portuguesa deve ser a preservação do património cultural e linguístico. Apesar ainda faltar muito a fazer, houve alguns avanços. Mas isso também depende empenho e do investimento de Portugal, que parece ter mais apetência para proclamações patrióticas anacrónicas do que para investir na sua influência cultural, como é evidente nos PALOP.

É curioso ver como o patriotismo da nossa direita se concentra sempre na soberania do passado, desprezando sempre a do presente. Onde estava o CDS quando a nossa Rede Elétrica Nacional foi vendida ao regime chinês, pondo em causa uma infraestrutura sensível para a nossa economia e independência? Onde estava o CDS quando vendemos os nossos aeroportos a uma empresa francesa em termos que impedem decisões estratégicas para o futuro das nossas ligações ao mundo? Onde está o CDS quando aceitamos que, mesmo sem desvios orçamentais, a Comissão Europeia tenha poder sobre o que fazemos com o dinheiro dos nossos próprios impostos? Onde estará o CDS quando se debater a distribuição territorial do esforço de investimento que Draghi defende para a Europa? Onde esteve, está e estará o CDS quando Portugal se limita ao papel de “bom aluno” de outros? Para esta direita, a pátria existe na memória colonial, na defesa de Olivença, no saudosismo da grandeza passada. Morre quando falamos da nossa independência presente e futura. É um patriotismo de museu.

À declaração do ministro da Defesa, apenas reagiu, com enorme elegância e sentido diplomático, o alcaide de Olivença, escrevendo que no município se trabalha “para aquilo que nos une, que é muito mais do que aquilo que nos separa numa fronteira que está misturada há décadas”. Felizmente ou infelizmente, ninguém quer saber o que diz o nosso ministro da Defesa. Nem no Ministério dos Negócios Estrangeiros se abriu a boca.

A gravidade não é o que foi dito, que até corresponde a uma verdade formal, apesar da afirmação política de que “não se abdica” de “direitos quando são justos” ser politicamente inconsequente. Grave é o ministro da Defesa voltar a meter a foice na seara alheia, desta vez na do ministro dos Negócios Estrangeiros. E, depois disso, para corrigir o tiro, dizer que o fez como líder do CDS, com militares atrás e enquanto presidia à cerimónia dos 317 anos do Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz.

Compreende-se a angústia de Nuno Melo. Hoje, o CDS é os “Verdes” do PSD. Não tem espaço identitário. O seu populismo fiscal foi ocupado pela IL. O seu populismo contra imigrantes e beneficiários do RSI foi ocupado pelo Chega. Os dois com muito maior eficácia. A sua agenda conservadora é dominante no PSD, que, com a liderança de Montenegro, lhe dá cobertura. E a democracia-cristã sensível à doutrina social da igreja fugiu do partido há muitos anos, com pessoas como Rosário e Roberto Carneiro. Sobra ao CDS a sua atazagorafobia, um medo patológico de ser esquecido ou ignorado.

O CDS já não existe. Está diluído no PSD, que agora se chama AD para se livrar da memória do passismo que Montenegro elogia, mas sabe ser tóxica. Quis tanto fugir do seu próprio passado que foi ao baú e pôs o impagável Melo na lapela e o inapresentável Câmara Pereira no bolso.

De vez em quando, Nuno Melo tem de dizer uma coisa que o PSD não diria. Desta vez, foi importunar os pobres oliventinos. Aborrecido é o grito de soberana paixão pelo território perdido, que em Espanha quer estar para o resto da sua existência, seja feito com homens fardados atrás. A culpa é de quem deu um ministério relevante ao líder de um partido defunto. Os mortos às vezes falam. Mas, estando mortos, a cabeça já não é o que era.»


1 comments:

António Alves Barros Lopes disse...

Claro que se lixe Olivença. Defender as Selvagens é o que está a dar.
Já nuestros hermanos não são assim. Não largam Ceuta, defendem Peregil e Berram por Gibraltar!