Na sua crónica de hoje no DN, Ferreira Fernandes retoma a questão, recentemente tão badalada, de 20 x portugueses x 20 ocuparem lugares na administração de mais de 1.000 empresas. Fica aqui na íntegra, porque é curta, e remeto para o meu comentário final.
Os 20 que nos têm cativos
Sim, também se aprende em eleições. Já a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários revelara no relatório anual sobre as sociedades cotadas (mas quem lê relatórios da Bolsa?), mas foi Francisco Louçã que disse em campanha: 20 administradores acumulam lugares nas administrações de mais de mil empresas portuguesas! Os discursos eleitorais sendo como os almoços, nunca grátis, Louçã puxou a coisa para o efeito imediato: um desses administradores omnipresentes ganhava 2,5 milhões de euros por ano. Ora esse é talvez o aspecto menos interessante do facto extraordinário de haver 20 pessoas com presença, cada uma, em 50 conselhos de administração. Aliás, alguns até estão em cargos não remunerados - e isso sublinha todo o sentido daquela bizarria. Os 20 tipos espalhados por mil empresas não estão lá para as gerir, estão lá para influenciar. Noutros negócios - máfia, maçonarias, Opus Dei (ou se quiserem ser românticos, dez estudantes finalistas brilhantes que fazem um pacto secreto para dirigir o País ao fim de uma dúzia de anos...) -, noutros negócios similares há a construção de um polvo, com estatutos mais ou menos secretos e uma vontade de organização. Mas os nossos "20 em mil" não são filhos de um complô - eles existem porque a nossa economia (centralizada e sem rasgo) respira naturalmente esta distribuição de poucos por quase tudo que dê dinheiro a sério. É assim porque é assim. E não vai deixar de ser assim.
(O realce é meu.)
Os factos são conhecidos e não voltaria a eles não fosse o «remate» do texto de FF - perfeito se for declaração de puro cinismo, terrível se tomado à letra. Porque se acreditamos mesmo que isto nunca «deixará de ser assim», que nada mais há a esperar destes europeus esburacados e agoirentos que somos, mais vale levantarmos os euros que ainda temos no banco e zarparmos com a família para um local remoto, se possível em terras férteis e com clima razoável, asilados de preferência junto de uma qualquer tribo de linguajar para nós desconhecido.
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