Na madrugada do dia 26 de Novembro de 1967, a região de Lisboa foi palco da ocorrência de fortes chuvadas que terão originado entre 500 e 700 mortos, milhares de desalojados e a destruição de inúmeras habitações.
A imprensa da época noticia a tragédia, mas com as limitações impostas pela censura. Transcrevo alguns excertos.
«Lisboa mais abastada seguia para o cinema ou refastelava-se na poltrona caseira, assistindo ao famigerado folhetim 'Gente Nova' da RTP, à espera de mais uma aventura do 'Santo'. A Lisboa menos favorecida estava no café para a bica, ou ficara no bairro suburbano, julgando que o seu fim-de-semana iria ser igual aos outros. Quando o Roger Moore chegou aos receptores, já os tectos humildes começavam a meter água, as ruas pareciam rios, as praças, lagos; e os cinéfilos, bloqueados nos engarrafamentos de trânsito haviam esquecido o Éden ou o S. Jorge e pensavam na melhor maneira de voltar a casa.
Há doze horas que chovia. Os colectores não davam vazão à enxurrada e, logo que a maré do estuário onde eles despejam as águas que vão correndo pela cidade atingiu a sua altura máxima, já não se sabia onde acabava o Tejo e começava Lisboa.» (Flama, n.º 1030, Edição Extra, 1 de Dezembro de 1967, pág. 4)
«Como aconteceu? Como aconteceu? Repete-se a questão. Foi na madrugada de 25 para 26 de Novembro, de sábado para domingo. Chovia. É normal, no Inverno. Poderia ter sido uma chuva benéfica, capaz de abrir em frutos novos muitos campos. Mas não foi. Para muita gente (demasiada gente) ela foi a desgraça ou a morte. Ninguém sabe exactamente a que horas aconteceu a tragédia. Os ponteiros de muitos relógios agora parados indicam vários instantes precisos para diversas localidades. Duas e cinco aqui, uma e cinquenta e três acolá, três e treze noutro lugar. Poderá ter sido bastante mais cedo: pouco antes de terminar a festa que para milhões de espectadores ainda é a TV.» (Flama, n.º 1031, 18 de Dezembro de 1967, pág. 40-41)»
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